Na escola particular onde trabalhava, dando aulas de
Português aos alunos do Ensino Fundamental, as coisas iam de mal a pior, a
inadimplência era uma dura realidade, por esse motivo a professora se
encontrava naquele momento, desempregada.
No seu quarto, sozinha, pensava nos 15 anos de dedicação ao
magistério. Era o que sabia fazer. Era o que amava fazer.
Enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto abatido, ela
sentia o peso dos seus 40 anos que antes nem pesavam tanto assim.
Agora só restava aceitar o emprego que a mãe de um dos seus
alunos, diretora de uma creche, havia lhe oferecido. Não tinha outra saída,
precisava pagar as contas que há meses se acumulavam, devido ao salário já há
algum tempo, atrasado.
Mas como seria trabalhar numa creche? Nunca trabalhara com
crianças tão pequenas. Certamente não conseguiria, seria estressante, não tinha
mais idade pra isso. Seus dois filhos já estavam crescidos, um com 25 e outro
com 22 anos. Ainda por cima teria que iniciar um curso de Pedagogia.
Não tinha saída, enfrentaria as ferinhas.
Foi para debaixo do chuveiro e deixou que a água fria se
misturasse às lágrimas que teimavam em cair. Os pensamentos se embaralhavam na
sua cabeça. Respirou fundo, e lentamente começou a enxugar o corpo. Depois,
ainda com calma, como quem treina a paciência que a partir de agora sabia que
teria que ter, enxugou as lágrimas, vestiu um vestido claro para contrastar com
aquela nuvem negra que pairava sobre sua cabeça, anunciando tempestade, usou um
pouco de maquiagem para disfarçar a aparência abatida e saiu.
Chegou ao seu destino, entrou na creche, observou o
ambiente. Foi recebida por uma das educadoras que a levou para uma sala onde
algumas crianças brincavam. Ela parou, olhou em volta e aquele espaço colorido
e infantil lhe trouxe um pouco de calma. Lembrou dos bons tempos em que seus
filhos quando pequenos, ficavam num lugar como aquele, e como eles aprendiam e
se divertiam! Chegavam em casa sempre com muitas novidades para contar. Observou então que alguns pares de olhos brilhantes
miravam seu rosto com curiosidade. Um
sorriso alegre surgiu em cada rostinho. Impossível resistir ao doce encanto
daqueles pequeninos. Aos poucos foi se chegando, a educadora saiu e a deixou
sozinha com as crianças, ela se apresentou, perguntou o nome de cada uma,
depois sentou numa das cadeirinhas que ali estavam, conversou um pouco. Logo
foi cercada pelas crianças, uma delas começou a mexer nos seus cabelos, aquele
toque suave lhe deu uma sensação de conforto, outra pediu para que lhe contasse
uma história..
E a professora que há pouco chorava agora sorria. .
Zezinha Lins